“A contemporaneidade tem-se caracterizado pelas relações de produção e de consumo permeando as interações sociais. Temos acompanhado mudanças nas relações estabelecidas entre adultos e crianças, bem como o surgimento de uma nova produção da subjetividade em função da organização do cotidiano pela mídia e o modo como a experiência das crianças, dos jovens e dos adultos vem se transformando na sociedade de consumo. Portanto, crianças, adolescentes e adultos alteram suas relações intersubjetivas a partir das influências que a mídia e a cultura do consumo exercem sobre todos nós”. (CAMPOS E SOUZA, 2003).
Ainda segundo depoimento concedido a Campos e Souza (2003):
“Joana, 13 anos, nos dá sua versão sobre as famílias contemporâneas: Joana – [Referindo-se a crimes cometidos por crianças e adolescentes, violência nas escolas...] Os pais são aqueles pais que trabalham o dia inteiro, ficam em casa pouquíssimo tempo e mesmo assim nos finais de semana ainda vão trabalhar. Não ficam com o filho. Aí o filho liga pro trabalho: `olha pai, às nove horas eu tô saindo de casa e não sei que horas que eu volto`. O pai não está nem se preocupando - até porque o trabalho está na cabeça de todo pai e toda mãe. Aí as pessoas já pensam assim: `vou fazer aquilo pra chamar a atenção do meu pai`... Eu acho que foi até por isso que, certas pessoas, assim, na nossa classe, acontece isso”. (CAMPOS E SOUZA, 2003).
A partir do que podemos observar pelas considerações de Silveira (2000):
“Para Castro, uma das questões que mais tem promovido uma possível ruptura quanto ao tipo de sujeito infantil que hoje experimentamos no meio urbano brasileiro diz respeito a dos espaços por onde circulam adultos, crianças e jovens. Segundo ela, cada vez mais esses espaços são diferenciados e compartimentalizados, suas estruturas tanto refletem como determinam o que ela chama de sociabilidades emergentes. E é dentro desses novos espaços que novas relações são possíveis e se estabelecem. A própria inserção do jovem e da criança na vida urbana corresponde não só a uma delimitação de espaços como também à ausência da figura do adulto, que permanece menos tempo em casa devido às atividades profissionais”. “(...) Mas nem todo lugar é oferecido à circulação, principalmente da criança. É nesse sentido que Castro observa haver uma demanda muito grande de crianças que passam boa parte de seu tempo.
diário em frente à televisão. Essa condição urbana de enclausuramento doméstico favorece outra inserção que não aquela do espaço urbano, devido à abrangência de telespectadores infantis que atinge. É a inserção em outras redes simbólicas de subordinação cultural que se dá por meio do ato de assistir à televisão”. “(...) Castro diz que nessa nova relação em que o adulto não está presente o modelo pedagógico de educação familiar, alicerçado na autoridade e na tradição, é substituído pela pedagogia dos mass mídia, utilizando-se do apelo ao consumo e ao arrebatamento pelo olhar. Tal estatuto pedagógico da mídia, em particular a exercida pela TV, além de questionar o que a criança aprende na família e na escola, produz novas formas de a criança perceber-se e reconhecer-se, assim como aos outros e ao mundo onde vive”. (SILVEIRA, 2000 APUD CASTRO, 1999).
Reforçam mais Campos e Souza (2003):
“Segundo Postman (1999), após a invenção do telégrafo por Morse, a informação passou a ter um caráter anônimo, descontextualizado, tornando as diferenças entre culturas irrelevantes. “O telégrafo criou um público e um mercado [não só] para a notícia fragmentada, descontínua e essencialmente irrelevante, que até hoje é a principal mercadoria da indústria da notícia” (p. 85). O telégrafo foi o precursor das mudanças que o seguiram: prensa rotativa, fotografia, telefone, cinema, rádio, TV (e, mais recentemente, a Internet), tornando impossível o controle da informação, modificado em sua forma, havendo hoje uma preponderância de imagens. Tais mudanças trouxeram conseqüências para a infância, retirando da família e da escola o controle da informação, alterando o tipo de acesso das crianças e dos adolescentes à informação. A imagem da televisão, por exemplo, está disponível a todos, independente da classe ou idade. “Na TV, tudo é para todos” (p. 93). Não há distinção criança/adolescente/adulto/idoso ou indiferenciação quanto a seu acesso. É só ligar a televisão”. (CAMPOS E SOUZA, 2003 APUD POSTMAN, 1999).
Campos e Souza (2003) afirmam:
“A mídia invade nosso cotidiano. A criança e o adolescente de hoje não conheceram o mundo de outra maneira - nasceram imersas no mundo com telefone, fax, computadores, televisão, etc. TVs ligadas a maior parte do tempo, assistidas por qualquer faixa etária, acabam por assumir um papel significativo na construção de valores culturais. A cultura do consumo molda o campo social, construindo, desde muito cedo, a experiência da criança e do adolescente que vai se consolidando em atitudes centradas no consumo”. (CAMPOS E SOUZA, 2003).
Para complementar, segue outro relato de Campos e Souza (2003):
“Marcela, uma adolescente, diz o seguinte sobre a infância contemporânea: Marcela - Eu acho que a criança de hoje ela está muito precoce pras coisas. Tem muita coisa que eu acho errado, por exemplo: uma garota de quatro anos botar um shortinho da Carla Perez, topizinho... Eu acho isso horrível! Eu acho muito precoce! Pois é, eu acho que é influência da televisão, é achar bonito. Ninguém mais acha bonito Sítio do Pica-pau Amarelo, que era uma coisa educativa. Hoje todo mundo... Vamos ver o programa do Raul Gil, do Faustão, que vai ter a bunda lá da Carla Perez. Gente! Eu acho que poderia trabalhar essa coisa precoce da criança de hoje mais voltada pra outro lado, entende? Tem criança de cinco anos hoje que está dançando? Beleza! Vamos dançar! Então vamos botar numa aula legal, em vez de estar dançando a música do Tchan”.
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