No que se refere ao brincar, Queiroz et al (2006) discorrem sobre o quanto é comum, e o quanto é recorrente nas prática socioculturais das sociedades contemporâneas essa ação infantil, mostrando ainda que apesar do trabalho infantil que se insere sobre o segmento social menos privilegiado (de baixa renda), reforça por meio de Siaulys (2005) que a brincadeira para a criança permite a vivência lúdica e o descobrimento de si, apreendendo sobre a realidade e desenvolvendo seu potencial criativo.
Dando suporte ainda maior relevância do brincar para o desenvolvimento infantil, Cordazzo e Vieira (2007), respaldados por autores afirmam:
“A brincadeira é a atividade principal da infância. Essa afirmativa se dá não apenas pela freqüência de uso que as crianças fazem do brincar, mas principalmente pela influência que esta exerce no desenvolvimento infantil. Vygotsky (1991) ressalta que a brincadeira cria as zonas de desenvolvimento proximal e que estas proporcionam saltos qualitativos no desenvolvimento e na aprendizagem infantil. Elkonin (1998) e Leontiev (1994) ampliam esta teoria afirmando que durante a brincadeira ocorrem as mais importantes mudanças no desenvolvimento psíquico infantil. Para estes autores a brincadeira é o caminho de transição para níveis mais elevados de desenvolvimento”. (CORDAZZO E VIEIRA, 2007 APUD VYGOTSKY, 1991; ELKONIN, 1998; LEONTIEV, 1994).
Cordazzo e Vieira, no que diz respeito à brincadeira, deixam claro todos os fatores que permeiam o brincar, e ressaltam as dimensões deste fenômeno, que deixando de ser uma simples ação, ganha importância e significado:
“A brincadeira, seja simbólica ou de regras, não tem apenas um caráter de diversão ou de passatempo. Pela brincadeira a criança, sem a intencionalidade, estimula uma série de aspectos que contribuem tanto para o desenvolvimento individual do ser quanto para o social. Primeiramente a brincadeira desenvolve os aspectos físicos e sensoriais. Os jogos sensoriais, de exercício e as atividades físicas que são promovidas pelas brincadeiras auxiliam a criança a desenvolver os aspectos referentes à percepção, habilidades motoras, força e resistência e até as questões referentes à termorregulação e controle de peso (SMITH, 1982)”. “(...) Outro fator que pode ser observado na brincadeira é o desenvolvimento emocional e da personalidade da criança. Para Friedmann (1996) e Dohme (2002) as crianças têm diversas razões para brincar, uma destas razões é o prazer que podem usufruir enquanto brincam. Além do prazer, as crianças também podem, pela brincadeira, exprimir a agressividade, dominar a angústia, aumentar as experiências e estabelecer contatos sociais. Mello (1999), em sua tese doutoral, ao estudar crianças vítimas de violência física doméstica constatou que, pela brincadeira, as crianças elaboram as experiências traumáticas vividas, pois os conteúdos expressos no brincar têm relação com suas histórias. Em conformidade com estes estudos Melo e Valle (2005), em uma discussão sobre a influência do brincar no desenvolvimento infantil, acrescentam que o brinquedo proporciona a exteriorização de medos e angústias e atua como uma válvula de escape para as emoções”.“(...) Os aspectos simbólicos de sociabilidade, linguagem e cognição também são estimulados na brincadeira. O jogo é uma maneira de as crianças interagirem entre si, vivenciarem situações, manifestarem indagações, formularem estratégias e, ao verificarem seus erros e acertos, poderem reformular sem punição seu planejamento e suas novas ações”. (CORDAZZO E VIEIRA, 2007 APUD SMITH, 1982; FRIEDMANN, 1996; DOHME, 2002; MELLO, 1999; MELO E VALLE, 2005).
Para confirmar tudo o que foi dito até então, Queiroz et al (2006) finaliza dizendo:
“Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de promover o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo (Branco, 2005; DeVries, 2003; DeVries & Zan, 1998; Tobin, Wu & Davidson, 1989; Vygotsky, 1984, 1987)”. (CORDAZZO E VIEIRA, 2007 APUD BRANCO, 2005; DEVRIES, 2003; DEVRIES & ZAN, 1998; TOBIN, WU & DAVIDSON, 1989; VYGOTSKY, 1984, 1987).
Referências:
QUEIROZ, Norma Lucia Neris de; MACIEL, Diva Albuquerque; BRANCO, Angela Uchôa. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paidéia (Ribeirão Preto) [online], v. 16, n. 34, p. 169-179, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v16n34/v16n34a05.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2010. doi: 10.1590/S0103-863X2006000200005.
CORDAZZO, Scheila Tatiana Duarte; VIEIRA, Mauro Luís. A brincadeira e suas implicações nos processos de aprendizagem e de desenvolvimento. Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro , v. 7, n. 1, jun. 2007 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-42812007000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 01 dez. 2015.
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